Promovido pelo Instituto Sustentar, em parceria com a Verdelho Comunicação, o webinário “Fauna nas Estradas: Risco de Vida para Animais e Pessoas” reuniu, nos dias 13, 14 e 15 de maio, alguns dos maiores especialistas do Brasil para discutir os impactos das rodovias sobre a fauna silvestre e propor formas de mitigação para esse grave problema.

O evento contou com o apoio das seguintes instituições: ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres, UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso, REET Brasil – Rede de Especialistas em Ecologia de Transportes, Instituto SOS Pantanal, Observatório Rodovias Seguras para Todos e Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR).
No segundo dia do webinário, uma das palestrantes foi Elisa Dias, engenheira florestal, com especializações em Direito Ambiental, Gestão de Pessoas, Gestão de Stakeholders e ESG. Atua há mais de 12 anos em temas socioambientais no grupo CCR, atualmente na Motiva Rodovias, onde é responsável pela gestão socioambiental e fundiária, além de áreas correlatas. Ela apresentou projetos que evidenciam como o setor de infraestrutura rodoviária pode incorporar práticas de responsabilidade socioambiental em suas operações.
Abaixo, o resumo de sua palestra:
Projetos que evidenciam a articulação entre o desenvolvimento de infraestrutura rodoviária e a responsabilidade socioambiental

O primeiro projeto apresentado foi o Projeto do Papagaio-Verdadeiro, iniciado em 1997 com o apoio da Fundação Neotrópica do Brasil. Esse projeto tem como foco a preservação da espécie Amazona aestiva, popularmente conhecida como papagaio-verdadeiro, que é muito procurada como animal de estimação e, por isso, frequentemente vítima do tráfico de animais silvestres. O projeto atua na instalação de ninhos artificiais em áreas seguras do Cerrado e da Mata Atlântica, especialmente no estado do Mato Grosso do Sul, para proteger os filhotes durante a fase crítica de reprodução e garantir a sobrevivência da espécie. Além disso, há uma forte componente educativa, que envolve desde crianças em escolas até a população em geral, para conscientizar sobre a importância da proteção desses animais e combater o tráfico.
Em 2024, o projeto registrou a instalação de 60 ninhos, com 46 ovos registrados, 26 filhotes nascidos e 17 jovens que alcançaram o voo, além de beneficiar outras 14 espécies de aves que também utilizam os ninhos. Elisa explicou ainda como os papagaios são traficados, muitas vezes presos em pequenos espaços improvisados, e destacou que o projeto está aberto para adesão e doações, que podem ajudar na confecção e instalação dos ninhos e nas campanhas educativas.
O segundo case foi a criação de um Parque Nacional Municipal no município de Lajeado, no Rio Grande do Sul, um projeto de regularização fundiária que visa a criação de uma unidade de conservação para compensar intervenções ambientais. A área protegida compreende 110 hectares de remanescente de Mata Atlântica, identificada numa região urbana suscetível à expansão imobiliária. O projeto foi desenvolvido em parceria com a prefeitura local e submetido à aprovação do IBAMA, que já autorizou a criação do parque. Há uma lei municipal que garante a preservação da área, que inclui nascentes, solo preservado, áreas de preservação permanente e fauna local, garantindo a conservação da biodiversidade regional. Atualmente, a fase em curso é a regularização fundiária e aquisição das áreas para transferência ao município.
O terceiro destaque foi o estudo de biodiversidade no trecho norte do Rodoanel, conduzido pela concessionária Via Ápia. Esse estudo segue o padrão de desempenho 6 do IFC, buscando alcançar o impacto líquido zero (Net Zero) sobre a biodiversidade nas áreas de influência do projeto, que incluem os parques estaduais da Cantareira e do Itaberaba, em São Paulo. A fauna monitorada compreende mamíferos, aves, répteis e anfíbios, utilizando a técnica inovadora do DNA ambiental, que é não invasiva e utiliza insetos hematófagos e necrófagos para identificar as espécies presentes. Entre os animais detectados exclusivamente por essa técnica estão a anta, o ouriço cacheiro, a cuíca de colete e a raposa, além de outras espécies identificadas por métodos tradicionais. O estudo permitiu a identificação de nove pontos com média e alta sensibilidade ambiental, além de contribuir para a implementação de práticas sustentáveis na infraestrutura da rodovia.
Outro projeto relevante é o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, da concessionária Tamoios, que atua no resgate de animais atropelados na rodovia e região. Os animais recebem atendimento médico, incluindo cirurgias e cuidados emergenciais, para posterior reabilitação e retorno à natureza. A reinserção é monitorada por meio do uso de chips e anilhas, possibilitando o acompanhamento da fauna e a identificação das regiões de atuação dos animais. Essa iniciativa tem uma parceria consolidada de quase 10 anos com a Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP).
Por fim, Elisa apresentou o Programa Companheiro na Estrada, desenvolvido pela concessionária SPMAR. Esse programa transforma resíduos de uniformes usados em coletes refletivos para animais domésticos, visando aumentar sua visibilidade para motoristas e reduzir atropelamentos. A iniciativa também inclui a capacitação de moradores locais, com cursos de corte e costura para a confecção dos coletes, além de ações educativas para conscientizar os comunitários sobre os riscos de abandonar animais soltos nas proximidades das rodovias. Essa campanha busca incentivar o encaminhamento seguro dos animais, promovendo a adoção responsável e evitando acidentes.
Ao concluir, Elisa colocou-se à disposição para fornecer mais detalhes sobre os projetos apresentados, enfatizando a importância do diálogo e da colaboração para buscar soluções sustentáveis que atendam aos desafios do setor rodoviário e da conservação ambiental.
Elisa Dias é engenheira florestal, com especializações em Direito Ambiental, Gestão de Pessoas, Gestão de Stakeholders e ESG. Atua há mais de 12 anos em temas socioambientais no grupo CCR, atualmente na Motiva Rodovias, onde é responsável pela gestão socioambiental e fundiária, além de áreas correlatas.
Para assistir à íntegra do primeiro dia do webinário Fauna nas Estradas, clique aqui.
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