A maternidade é um marco que transforma muita coisa — mas talvez o que mais assuste não sejam as noites sem dormir, os choros sem tradução ou o corpo que muda.
O que mais assusta, muitas vezes, são as relações que se transformam junto com a gente.
De repente, amizades antigas já não fazem tanto sentido.
As conversas que antes fluíam com facilidade agora parecem atravancadas por realidades diferentes.
Algumas pessoas somem. Outras apenas se afastam aos poucos, sem grandes brigas, mas também sem esforço para ficar.
É estranho, porque junto da imensidão de amor que um filho traz, também chega uma solidão silenciosa.
A gente passa a conviver com um vazio social que ninguém nos avisou.
Enquanto mergulhamos no puerpério, no novo ritmo da casa, no cansaço que não dá trégua — o mundo lá fora continua no mesmo ritmo. E nem sempre as pessoas entendem a profundidade desse abismo.
Mas… aos poucos, algo bonito começa a acontecer.
A maternidade também aproxima.
De forma delicada, outras mulheres começam a aparecer.
Às vezes em um grupo de WhatsApp. Às vezes no parquinho. Às vezes numa troca rápida de olhares na sala do pediatra.
São vínculos que surgem com empatia, com escuta, com acolhimento.
Não exigem versões perfeitas de nós — elas acolhem o caos.
Tem amizades que nascem ali, entre uma fralda e outra, entre um desabafo e uma identificação.
São laços que talvez não tivessem surgido em outra fase da vida, mas que agora fazem todo o sentido do mundo.
A maternidade filtra.
E isso dói. Mas também liberta.
Ela mostra quem realmente caminha com a gente.
Quem liga mesmo sem ter assunto.
Quem pergunta como estamos — de verdade.
Quem manda comida, escuta o choro, segura o colo, entende o cansaço.
Nem todas as amizades sobrevivem à maternidade.
Mas as que permanecem, e as que nascem a partir dela, têm uma força diferente.
São vínculos que não precisam de máscaras nem agendas lotadas. Só de presença real.
E se você sente que perdeu pessoas nesse processo, saiba: talvez você tenha, sim, perdido algumas…
Mas também ganhou a chance de se cercar de quem vibra com você.
De quem respeita seu tempo, seu novo ritmo, sua nova versão.
E essa versão de você — mãe, mulher, em construção — merece ser amada por inteiro.
0 comentários